Um estudo realizado pela Faculdade de Saúde Pública da USP observou que algoritmos conseguem prever a qualidade de vida futura de pessoas com câncer em estágio avançado. E essa é a primeira vez que um trabalho científico usa a Inteligência Artificial (IA) para prever a qualidade de vida de pacientes oncológicos.
A tecnologia foi testada em mais de 777 pacientes internados em UTIs de hospitais oncológicos e acertou em até 82% dos casos se o paciente vai viver mais ou menos de 30 dias com qualidade de vida. Para o modelo matemático, foram usadas características do pacientes (como história sociodemográfica e clínica do paciente e do câncer e padrões fisiológicos, como hemograma e funcionamento renal).
O trabalho científico, o primeiro sobre predição de qualidade de vida de doentes com câncer, foi publicado no periódico científico internacional Journal of Critical Care. Hoje, há algoritmos que fazem boas previsões sobre as chances de mortalidade desses pacientes, mas não conseguem prever com precisão a qualidade de vida deles até o fim.
Os médicos ficam com um pé atrás se o melhor é investir na qualidade de vida ou continuar com tratamentos agressivos. É nisso que a IA pode ser importante para se decidir se vale a pena insistir em mais tratamentos ou partir para os cuidados paliativos – atualmente recomendados para serem iniciados tão logo haja o diagnóstico de uma doença incurável.
Embora promissores os resultados do estudo, a tecnologia ainda requer novos testes para ser validada e passar a ser usada na prática clínica.
Sendo Alexandre Chiavegatto Filho, professor da USP e coordenador da pesquisa, em até dois anos seremos capazes de falar para o médico: “Essa pessoa tem probabilidade de 95% de viver mais de 30 dias”. Ele afirma que hoje a incerteza vivida pelo médico sobre o prognóstico futuro é uma das barreiras que impedem o avanço da oferta de cuidados paliativos a doentes sem chance de cura.
Já para a médica Maria Goretti Maciel, diretora do serviço de cuidados paliativos do Hospital do Servidor Público Estadual, preditores baseados em sinais físicos são importantes, mas é fundamental levar em conta questões subjetivas que envolvem a pessoa com um câncer avançado.
Para ela, durante todo o processo de deliberação sobre cuidados paliativos, a gente se apoia também em dados clínicos, mas também em valores do paciente, da família, em intuição da equipe. Isso se chama arte médica. Se você usa somente fatos clínicos para te apoiar na decisão, você perde metade da sua capacidade de decisão.
E você, o que pensa sobre a aplicação da IA na área da saúde? Convido você a refletir este tema comigo.